O aprimoramento do uso da inteligência artificial no varejo tem o poder de transformar o setor. Isso porque a tecnologia pode ajudar as empresas a melhorar suas operações, as experiências dos clientes e ainda impulsionar as vendas.
E essa tendência é global. De acordo com a consultoria norte-americana Fact MR, a IA global no mercado de varejo deve movimentar US$ 85 bilhões até 2033, com uma taxa CAGR (crescimento médio anual deflacionado) de 30,3% nos próximos 10 anos.
Algumas utilidades práticas da inteligência artificial para o varejo incluem assistentes virtuais para atendimento aos clientes; previsão de demanda para equilibrar o estoque; detecção de fraudes; análise de comportamento de clientes em loja; geração de recomendações personalizadas de produtos; entre outras.
Para Magno Maciel, pesquisador da OpenIA (ChatGPT) e CTO da Serafin, a IA nos negócios tende a oferecer uma melhor experiência para os clientes principalmente. “Hoje, muitas empresas ainda têm receio de usar essa tecnologia em sua complexidade porque não confiam tanto nela, mas isso tende a melhorar. Foi a mesma coisa quando criaram o piloto automático do avião. Quem se arriscaria a voar naquilo pela primeira vez? Com o tempo, criamos confiança”, compara.
Durante a última Digitail Conference, promovida pela Gouvêa Experience, em maio, a inteligência artificial no varejo foi um dos principais assuntos discutidos no evento. “A IA será a última coisa que o ser humano vai criar sozinho. Tudo o que vier depois dela terá ajuda da própria IA”, comentou Maciel.
Ele ainda destacou como a inteligência artificial está moldando o futuro. “Devemos desmistificar sua complexidade e não precisamos interagir diretamente com ela. Podemos acessar incríveis ferramentas como Chat GPT. Esse ecossistema é o arsenal que nossos negócios precisam para prosperar.”
C&A
Um dos cases apresentados que mostram ótimos resultados com o uso de IA é o da C&A. A gigante da moda viu seu plano de trabalho de novos investimentos ir por água abaixo com a pandemia. Foi apenas em 2021 que a marca pôde retomar o que havia sido planejado.
“Nosso objetivo principal era unir a grande presença física da C&A à força da marca por meio da tecnologia para nos diferenciar e ganhar capacidade competitiva”, disse Paulo Correa, CEO da C&A.
A marca tem atualmente 330 lojas no Brasil, atende a 1 milhão de pessoas por dia em suas unidades e atua com 400 mil SKUs.
Entre os exemplos que Correa deu sobre essa revolução tecnológica está o papel da IA na gestão eficiente. “Com ela, podemos monitorar grandes tendências de moda e comportamento no mercado interno e externo. Conseguimos testar caminhos e fazer vendas diferenciadas”, contou.
O CEO também citou a jornada do cliente na loja, por meio do abastecimento das unidades com o melhor sortimento em função da demanda e a granularidade na gestão de disponibilidade de tamanho e cor dos produtos em loja.
“Pense no seguinte cenário: o cliente entra na loja, passa por uma jornada por vários produtos. Para e pega o produto, procura a cor, mas não encontra seu tamanho. Pronto, recomeça toda a jornada e perdemos a conversão. Para evitar essa ruptura, temos uma previsão de venda de loja por loja, por meio de algoritmos que ditam qual a demanda daquela unidade, quais cores e tamanhos. Para isso, o centro de distribuição também precisa atender a essa demanda junto com a fabricação dos produtos”, comentou.
Uma história que tem dado muito certo na C&A, segundo o CEO, é a precificação dinâmica de produtos de acordo com a oferta e a procura. “Se temos uma demanda muito alta em uma loja por um item, podemos aumentar o preço para diminuir o fluxo de consumo a fim de dar conta do estoque, mas, ao mesmo tempo, conseguimos aumentar a nossa margem. Podemos também fazer o contrário, quando a demanda está baixa e reduzir o valor. Essa curva de SKUs é constantemente passada por simulações para gerar combinações a fim de tomarmos decisões sobre preços. Essa é uma forma inteligente de trazer a inteligência artificial para nosso negócio”, exemplificou Correa.
Falando sobre resultados com o uso de IA, o executivo exemplificou alguns dados. A empresa registrou 12 pontos percentuais de redução de ruptura, além de um aumento de 23% nas vendas em 2023 e, por fim, um volume menor de estoque ao mesmo tempo em que está vendendo mais.
“Eu sou a favor da tecnologia que gere impacto nas decisões de negócios, por meio de pequenos ajustes com um impacto financeiro enorme. E mais do que isso: a tecnologia nos permite criar experiências memoráveis para os clientes e cada vez mais personalizadas”, finaliza Correa.
PETLOVE
A Petlove, uma das maiores empresas de produtos para pets no Brasil, também conta como conseguiu obter mais eficiência e maior satisfação do cliente ao usar inteligência artificial. A companhia nasceu no mundo digital e partiu para o físico com uma base tecnológica já sólida e abrangente.
Segundo Talita Lacerda, CEO da Petlove, a inteligência artificial tem sido usada em diversas atividades da companhia, como personalização de produtos e embalagens, layouts de lojas, campanhas promocionais, definição de produtos nas lojas, recomendações de itens no site e no aplicativo, melhora nas recomendações de reviews e comparativos de produtos.
“Sobre a IA Generativa, optamos por uma abordagem inicial focada no desenvolvimento de bots inteligentes (programa que imita ou substitui as ações de um ser humano) para apoiar nossos times de Customer Experience e de vendas internas. E temos obtido resultados importantes com isso”, afirmou Talita.
Fonte: Diário do Comércio